terça-feira, 18 de abril de 2017

Os primeiros terços de Fátima

Para os que sabem que um terço é uma coisa que se reza e distinguem uma novena ou uma dezena dum terço ou dum rosário, aqui vos deixo o testemunho dum industrial de terços que conheço.

Crescia Fátima, nos anos trinta de Salazar e Cerejeira e a Fé em milagres do Céu fazia milagres comerciais de vendas de santinhos, de água, de vinhos e enchidos quando um pastor, pouco pastorinho, começou para lá a caminhar em dias de romaria, para vender os seus terços artesanais. Eram feitos de caroços de azeitona, que era o que por ali mais havia  além de pedras e pobreza. A mulher aos serões esburacava as "contas", uma a uma, com uma sovela e ele durante o dia encadeava o arame nos terços.
- Mas um terço feito de caroços de azeitona não seria muito agradável à vista?!
- Para os fazerem brancos, davam os caroços a comer às ovelhas para que a passagem pelos seus intestinos os fizessem brancos. No outro dia era só pôr a criançada  a dissecar caganitas e o produto estava revestido de um branco imaculado.

E foi assim que começou por aqui a indústria de produtos religiosos. Um dia o pastor já entusiasmado pelo sucesso do negócio foi a Lisboa, descobriu bolinhas de vidro da Marinha Grande já com o furo feito e tudo, e então aí,  foi um ver se te avias até aos nossos dias.


3 comentários:

Sérgio Ribeiro disse...

Como é que isso se chama hoje? Empreendedorismo ou startup? Conheces a minha historinha "A Senhora lhe pague"? O meu vizinho aqui da frente - o Manel "Alfaiate" era terços e "amparos" para velas!

Maria disse...

Só tu me farias rir a esta hora.....
Eu papei terços e novenas e o raio que me parta quando tinha 8 e 9 anos - portanto, quando era inconsciente - e em Maio era um ver se te avias: todos os dias, à noite.
Depois havia a reza colectiva em casa.
Quando tomei consciência de mim deixei de tomar o corpo e o sangue da senhora e do senhor e passei a beber copos e a comer um queijito com pão. O inverso também é válido. Mas lembro-me dos terços que tive, deve andar um por aí porque é de prata. Mas não sei dele.
Abraço a vossa Majestade e perdoa a ousadia (do abraço, claro)

Anónimo disse...

AHHHH! AHHHH! Salvé o povo sem cheta mas inventivo até dizer basta.