terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Enquanto coisa proibida, bate mais



Alberto Albuquerque de Almeida nasceu em 1821, ano em que foi formalmente extinta a inquisição em Portugal. Alberto sabia que podia falar mas entendia que não valia a pena e, por isso, limitava-se a pensar que, na História, as mudanças no sentido da justiça mais cedo ou mais tarde aconteceriam com o tempo.

E fora assim que a inquisição se fora, que foram vencidos Luís XV e Napoleão e, em Portugal, se entrara no novo regime da monarquia constitucional.

Na realidade, Alberto Albuquerque de Almeida era um homem à frente do seu tempo mas não punha a mão nem adiantava palavra, ficava quieto à espera que as coisas acontecessem.

Religiões? Tinham os séculos contados. Deixaria de ser obrigatório ir à igreja, existiriam funerais sem padres e gente que não batizaria os recém-nascidos.
Monarquia? Cairia dentro de décadas. O futuro era a república e o governo do povo, o voto e a escola seriam um direito universal.
Mulheres de calças? Pode demorar cem anos mas o conforto falará mais alto. Viria até um dia em que as mulheres teriam os mesmos direitos que os homens.
Dava-se mal com a mulher? Um dia haveria divórcio. Um amigo fora apanhado de calças na mão com outro amigo? Um dia isso haveria de ser entendido como normal. Um dia haveria de até ser permitida a poligamia, fazer sexo sem ser para procriar ou fazer o aborto duma gravidez não desejada.

O filho de Alberto Albuquerque de Almeida, Almeida, assistiu à implantação da República, à Primeira Guerra Mundial e às Aparições de Fátima sem nunca se pronunciar. 
O neto de Alberto Albuquerque de Almeida, Albuquerque, assistiu à aclamação de Salazar, à Segunda Guerra Mundial, aos anos sessenta e nunca se pronunciou.

O trineto de Alberto Albuquerque de Almeida, Alberto, achou o 25 de abril uma coisa normal e encara a religião, a república, os direitos das mulheres, o divórcio, o sexo, a liberdade, como coisas normais.
Na passada quinta feira, de manhã, tomou o pequeno almoço, acendeu um charro, ligou a TV e nem queria acreditar, a esquerda bonita que nunca foi com cachimbos de prata ou mortalhas Águia, parlamentava sobre ciência farmacêutica e queria a merda na forma de drunfos.

Alberto desatou a rir; estes tipos não sabiam o que era uma pedrada,  a diferença entre fumar e tomar, entre cânhamo e boi ou entre um boi e um trator. Aquela merda não o fazia só rir, inspirava-o com pensamentos pouco parlamentares: a liberalização das drogas leves acontecerá depois de  2021, é tudo uma questão de tempo, não tinha pressa, o consumo proibido bate mais.

2 comentários:

Maria disse...

Um post de valia história e qualidade.
Sim, tem razão, provavelmente legalizam. Se calhar motivados por algum incómodo com a justiça de alguém das proximidades desses parlamentares. Não há como cortar o mal pela raiz... que isto na saúde vale mais prevenir que remediar...
Enfim...é o que temos...

Manuel Veiga disse...

sem pressa, que é para não tropeçar!
mas uns empurrões de vez em quando ajudam...

abraço, Majestade!