Falando novamente de The Kwent´s, apetece-me falar da sua história com histórias no plural e não foram poucas as que ao longo dos anos se cumpriram. O grupo não se consumava no palco, o grupo vivia muitas outras horas agrupado e muitas histórias aconteciam em viagem ou pelo menos em viagem eram contadas. Na Fiat ou na Mercedes, os ora quatro, ora cinco, ora seis, ora sete, ora mais elementos, intoxicados, cansados, ensonados, sujos, mal acomodados, acumularam muita história ao longo de sete anos.
– Gaita! Ainda dizem que Portugal é pequeno! Fui
à vila e estava a ver que nunca mais lá chegava!
Dissera uma mulher lá da terra, nos tempos em que se passava uma vida sem quase
sair da aldeia onde se nasceu, quando se viu obrigada a deslocar-se, a pé, à
comarca que distava 17 km. Esta expressão era frequentemente repetida para o
riso nos aliviar a saturação das viagens de horas que, muitas vezes, acabavam
com o nascer do sol.
Também
o ambiente de certos salões, garagens, barracões, era pesado. Num fim de série
era um alívio vir à rua tomar ar fresco, fumar ou fazer outras necessidades.
Quando os porteiros não identificavam o artista discreto e impediam a
reentrada, era um gozo ficar à porta à espera que o problema fosse resolvido
para que o baile recomeçasse.
- Já viste?! Podia ter caído para
dentro do poço!
Custava
a acreditar mas o “manager” da Terrinha afiançou a situação de perigo até à
exaustão e nós, os outros, respeitavelmente acreditámos! Até porque outra
história alguém tinha para repostar:
- Vim cá fora! Procurei um sítio para
despejar e arranjar espaço para mais cerveja! De repente do escuro um cão: ão!
ão!... – Ai!...
Olha se eu não fujo a tempo! O que podia ter
acontecido! Provavelmente nunca mais poderia ter filhos. Nunca mais! ... De
noite só com iluminação!
O Agostinho um dia não pôde ir e com o patrão ausente a atuação descambou. Enquanto houve gente que ouvia e dançava normalmente, tudo correu normalmente. Uma série tinha sempre uma primeira música de “estica o braço”, um slow para constituir família e uma final a rasgar para abanar o capacete ou em forma de rapsódia para dar uns viras . Fim de série, fila para o bufete, uma cerveja, um cigarro, conversa, convívio, sedução, até uma foto (e, nesta noite memorável, foi com o Tó da Memória na Memória).
Cumpridas já as séries que
justificavam o cachet, depois do público se resumir a fãs, resistentes e malta
que curtia o improviso e o imprevisível, a madrugada abriu-se num grito de
revolta e juventude, os sons ecoaram numa dura melodia coletiva, músicos e submúsicos
presentes na sala povoaram o palco, partilharam e trocaram de instrumentos,
eram três à bateria, três à guitarra, três ao microfone, um número indefinido
no total, rhythm and blues e o rock and rol prestam-se a estas coisas, não
parece haver um olhar lúcido no espaço do recreio, talvez apenas um cinquentão
da organização que, ouvindo o sino, se me dirige pedindo, encarecidamente, para
acabarmos, antes que começassem a chegar os fiéis para a missa de domingo na
capela que era mesmo ali ao lado.
2 comentários:
E ainda dizem que a juventude de hoje não conhece regras nem tem limites para nada.
Caramba, até estou azamboada com tanta desregração!
Só que, por mais voltas que dê à cabeça não me lembro de nenhum grupo musical com esse nome.
Não haverá ali um duplo V a mais?
Se há pessoa que percebe do manejamento da palavra, esse alguém está aqui, nem preciso ir mais longe.
Ufa! Estou estafada só de me imaginar nessas andanças. Mas lá que gostei de ler, isso gostei. :)
Tenha uma boa e calma semana, Dom Pata Negra.
Muito obrigado Janita. No youtube é capaz de aparecer
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