Enganar fez sempre parte do negócio: o camponês que arrancou dentes ao burro velho para o vender na Feira dos 12, a balança propositadamente desafinada do merceeiro do bairro, o vinho com água do taberneiro da esquina, o homem que vendeu gato por lebre.
Mas o engano tomou descaradas proporcões com a consolidação da vitória do capitalismo das grandes superfícies comerciais sobre o comércio tradicional. Eles enganam com os grandes reclames e as letras miúdas, com as cores das luzes e os embrulhos opacos, com o lugar das prateleiras e com os descontos e ofertas e, como toda a gente sabe, com os preços terminados em 99. E o pior de tudo é que, mesmo com consciência disso, nós vamos ao engano como se este sistema fosse uma fatalidade à qual nos temos de render.
Depois de terem implementado
a subtil subida de preços pela diminuição discreta de volumes e pesos, eis a
sua mais recente invenção: embalagens de dez estão a substituir as de dúzias,
essa referência numérica milenar.
Não sei se já se
perguntaram porque é que os sistemas duodecimal (12) e sexagesimal (60), com
origem suméria (onde em vez de se contar pelos 10 dedos se contava com o
polegar da mão direita as 12 falanges dos outros 4 dedos e se ia multiplicando,
até 60, pelos 5 dedos da mão esquerda), têm sobrevivido durante séculos ao
sistema decimal?
Na verdade, o número
12, para além da sua presença em motivos históricos e religiosos, é, a par com
o número 60, naturalmente utilizado nas medidas trigonométricas e de tempo. Mas
como se explica que as dúzias e meias dúzias continuem a dar bastante jeito na
gestão das quantidades domésticas?
Também nisso, os
gestores do grande comércio mostram a sua insensibilidade ou, quem sabe, a sua
ignorância, já que estamos em acelerado processo de substituição das embalagens
de 12 por embalagens de 10, isto, claro, sem incomodar o consumidor com alterações
de preços!
Sim, trata-se de gente
que não está habituada a dividir com outros, pois que eu divido irmãmente uma
dúzia de ovos por 2, 3, 4 ou 6 comensais, enquanto uma dezena apenas posso dividir
por 2 ou 5, sendo difícil fazer a terça ou quarta parte.
12/12/24
6 comentários:
Impressionante as coisas que o Monarca deste Reino no conta e sabe...!
Sim, e o que ele sabe de números? Será um douto Doutor Economista?
Será antes, pelo contrário, um repositor numa grande superfície comercial e está a par de todas as manigâncias que por lá acontecem, mormente nesta época de consumo exacerbado? Pois, não sei.
O que sei é que doravante, quando comprar uma embalagem de ovos de uma dúzia - o que é raro, sou mais a da meia-dúzia - vou contar se tem uma dezena em vez da dúzia.
Ai deles, que armo lá um berreiro que ainda me vão devolver duas dúzias...para eu me calar!!
Boas Festas!
Pasmo, mas a verdade é que não compro ovos há algumas semanas e sempre quero ver se toda essa subtileza na arte de fintar o massacrado comprador já chegou a estas bandas... É que estou literalmente afónica e ninguém me ouvirá por muito que berre. :(
Bom Natal!
Presenciei, há muitos anos, uma coisa parecida na Alemanha. Os maços de cigarros continham, originalmente, 24 unidades. Conforme os custos iam subindo, foram subtraindo 1 cigarro em cada maço com a desculpa que ficaria muito caro imprimir o novo preço nas embalagens que havia em stock. Quando abandonei o país, já só vinham 21 cigarros no maço. ERTE 23 era a minha marca!
Olá Janita, sei muito pouco, gosto de matemática, de saber a origem das coisas e sou anticapitalista. Boas Festas e viva as 12 badaladas.
Maria João, pelo menos não se atreverão a tirar 2 meses ao ano. Bom Natal.
Os alemães vão sempre à frente, já devem ter reduzido de tal modo o número de cigarros que agora ninguém fuma!
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