quarta-feira, 1 de junho de 2022

Os tempos que correm ao chicote

Aparentemente ainda não proibiram nenhuma canção, ainda não fuzilaram nenhum poeta, ainda não ilegalizaram nenhum partido dos trabalhadores. Mas boicotaram alguns cabos de microfone, silenciaram a melodia de certos poemas e abafaram o eco das palavras de ordem da avenida.

Sofro com a História, canto a memória dos antifascistas caídos em combate mas, por vezes, entrego-me rendido ao meu sofá, sinto-me um republicano em plena idade média e imagino o povo telespetador a rezar com a informação que lhe une as mãos:

- O nosso presidente é como nós! Crente!
- O nosso governo é como nós! Não é português! É FSE!
Somos brancos com algumas manchas, como os lençóis do santo sepulcro. Fomos formados na leitura dos livros de cowboys, respiramos a poeira dos filmes do oeste.
- Os americanos foram à lua!

Pobre europa! Pobres iberos que apenas ocupam os seus lugares, nos bancos das igrejas e dos estádios ou no auditório quando o convidado é conhecido da TV e acreditam piamente no futuro que a Senhora do Monte lhes reserva, na sabedoria do Ronaldo e no informado Nuno Rogeiro, filho de algo e de alga.

Uma multidão de imbecis, conduzida por um bando de imbecis, a banda a tocar, a malta a beber umas bejecas. Lá longe, soldados que morrem na boca dos canos de comandantes obedientes, é preciso é guerra para animar o baile e a economia! Ganha a América, a Rússia, a China! Pobre Europa! Pobres daqueles que só agora dizem que em África falta o trigo para fazer pão!

Sabem que mais? Nomes grandes do mundo, das grandes nações, das grandes organizações, engravatados ou com a saia pelo joelho, gajos e gajas com o poder que outros gajos e gajas sem nome vos atribuem, augustos, santos, silvas, vão para o milhazes!

O Costa? O Costa é parvo!

Rendo-me! Exultai! Rende-se um revolucionário. Não me rendo por não ter munições mas por não saber de que lado dispara o inimigo e também não saber nada do futuro. Ao menos que eu conseguisse falar com Marques Mendes, com a Senhora do Monte ou com aquele vidente que há quatro séculos previu que iria haver uma guerra entre duas nações e só uma venceria.

Sinto-me um republicano em plena idade média. Pretensioso? Não, desprezado! Só? Não, bem acompanhado! Fazendo parte duma organização de classe!
A vida é curta, encurtá-la com canhões é inaceitável! Abaixo o imperialismo, russo, americano, chinês, inglês, francês, português e todos os nacionalismos fascistas! E abaixo a populaça que toma partido por aquilo que vê na TV ou na televisão, no Facebook ou na Internet!...
- Soy um néscio portanto!? Não, por que sim!

2 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

... cito-te
" é preciso é guerra para animar o baile e a economia!"
e ganham todos (excepto os que perdem)

Maria João Brito de Sousa disse...

Também serei néscia, portanto!

Abraço