Se não leu o Quarto 1, o Quarto 2, o Quarto 3, o Quarto 4, o Quarto 5, o Quarto 6, o Quarto7, o Quarto 8, este quarto não faz sentido)
Com este entusiasmo à volta da mãe até me tenho esquecido das filhas. Deve notar-se que, até agora, ainda não revelei os seus nomes. De casa para fora não se conheciam amigas, amigos ou colegas às meninas. Iam para o liceu e vinham as duas a pé, sempre sozinhas. Também nunca se lhes ouvia assuntos de escola, tirando uma vez ou outra em que me pediam explicações.
As meninas reuniam todas as condições para serem discriminadas no bairro e na escola: tinham vindo de África, eram as únicas pretas num bairro branco, viviam na única casa que não estava impecavelmente arranjada – bem pelo contrário, o número 7 tinha ervas no jardim, já quase não havia vestígios de tinta nas paredes nem nas portadas degradadas - aos olhos da vizinhança, os movimentos de entrada e saída da casa eram intrigantes e, como se não bastasse, chamavam-se Gina e Tânia. Quem cumpriu o serviço militar sabe perfeitamente que Gina e Tânia eram os nomes de duas namoradas gráficas de muitos soldados – daí a conjugação dos dois nomes ser um acaso infeliz.
Gina, a mais nova, tinha um corpo de mulher feita digno de se olhar mas as feições portuguesas na cor mulata não a favoreciam muito. Andávamos os dois constantemente a brincar às agressões, às cartas nunca éramos da mesma equipa, Gina era feliz e curtia a minha presença na família.
Tânia era um espectáculo de encher olhos e secar bocas: o rosto arredondado bem africano, a pele de bronze, os sorrisos breves e felizes com dentes branquíssimos, um corpo de se lhe tirar o chapéu e depois, fizera 18 anos! 18 anos! Tânia falava apenas quando era necessário, largava-me um sorriso dos dela quando olhava para mim e nunca passávamos um pelo outro sem umas cócegazinhas.
Por vezes íamos os três, a pé, até ao restaurante-cervejaria onde trabalhava a mãe, sentávamo-nos na esplanada, elas pegavam num gelado cada uma e adoravam provocar-me a libido enquanto o comiam - riam, riam, riam uma para a outra satisfeitas por me lerem os pensamentos e por fazerem uma maldade sem fazerem nada de mal. Eu bebia duas ou três imperiais com tremoços e depois voltávamos para casa sem pagar nada - os empregados fechavam os olhos às nossas despesas porque os abriam bem às filhas da colega.
A um canto da sala havia um divã polivalente onde acabávamos, os três, as noites de filmes bons. Incapaz de acompanhar as legendas dona Graça ia para a cama. Independentemente do filme, não digo que não acontecessem umas mãos entre botões, calor, humidade – nessa altura ainda não havia ar condicionado - suspiração. Às vezes um “está quieto!”, às vezes um desejo, às vezes um “querias!”, às vezes uma carícia.
As meninas gostavam de mim, eu gostava das meninas. As meninas brincavam comigo, eu brincava com as meninas. A mãe via entre mim e as meninas, acontecesse o que acontecesse, a harmonia.
As meninas reuniam todas as condições para serem discriminadas no bairro e na escola: tinham vindo de África, eram as únicas pretas num bairro branco, viviam na única casa que não estava impecavelmente arranjada – bem pelo contrário, o número 7 tinha ervas no jardim, já quase não havia vestígios de tinta nas paredes nem nas portadas degradadas - aos olhos da vizinhança, os movimentos de entrada e saída da casa eram intrigantes e, como se não bastasse, chamavam-se Gina e Tânia. Quem cumpriu o serviço militar sabe perfeitamente que Gina e Tânia eram os nomes de duas namoradas gráficas de muitos soldados – daí a conjugação dos dois nomes ser um acaso infeliz.
Gina, a mais nova, tinha um corpo de mulher feita digno de se olhar mas as feições portuguesas na cor mulata não a favoreciam muito. Andávamos os dois constantemente a brincar às agressões, às cartas nunca éramos da mesma equipa, Gina era feliz e curtia a minha presença na família.
Tânia era um espectáculo de encher olhos e secar bocas: o rosto arredondado bem africano, a pele de bronze, os sorrisos breves e felizes com dentes branquíssimos, um corpo de se lhe tirar o chapéu e depois, fizera 18 anos! 18 anos! Tânia falava apenas quando era necessário, largava-me um sorriso dos dela quando olhava para mim e nunca passávamos um pelo outro sem umas cócegazinhas.
Por vezes íamos os três, a pé, até ao restaurante-cervejaria onde trabalhava a mãe, sentávamo-nos na esplanada, elas pegavam num gelado cada uma e adoravam provocar-me a libido enquanto o comiam - riam, riam, riam uma para a outra satisfeitas por me lerem os pensamentos e por fazerem uma maldade sem fazerem nada de mal. Eu bebia duas ou três imperiais com tremoços e depois voltávamos para casa sem pagar nada - os empregados fechavam os olhos às nossas despesas porque os abriam bem às filhas da colega.
A um canto da sala havia um divã polivalente onde acabávamos, os três, as noites de filmes bons. Incapaz de acompanhar as legendas dona Graça ia para a cama. Independentemente do filme, não digo que não acontecessem umas mãos entre botões, calor, humidade – nessa altura ainda não havia ar condicionado - suspiração. Às vezes um “está quieto!”, às vezes um desejo, às vezes um “querias!”, às vezes uma carícia.
As meninas gostavam de mim, eu gostava das meninas. As meninas brincavam comigo, eu brincava com as meninas. A mãe via entre mim e as meninas, acontecesse o que acontecesse, a harmonia.
(Na próxima quarta há mais Quarto)
16 comentários:
Gostava de saber porque andaste 9 semanasa esconder a Gina e a Tânia...
Hummm, demasiado tempo no divã...a ver filmes.
Delicioso! Gosto mesmo da forma como escreves!
Abraço
Escondidas estavam as meninas e as brincadeiras aos médicos, que em trio geralmente não permitiam demasiados avançoes, como é natural.
Cumps
Pata Negra
Meu malandro, com tantos quartos não sei como vieste aqui parar.
Abraço
Mto giro como sempre.Espero pelo próximo
A coisa está a ficar mais animada...
Um abraço
Compadre Alentejano
tu e as meninas... safas-te...
escreve lá o próximo para saber o que é que lhes fizeste.
Majestade.
(Vou ignorar a sugestão que Sua Alteza Real fez ao meu último comentário até porque não a li. Juro!).
Majestade, repito, há um não sei quê neste Quarto que o torna diferente dos anteriores, qualquer coisa indefinida mas que sinto e que me sugere que aconteceram coisas que não são contadas, um texto alinhadinho mas demasiado «soft» ao contrário dos anteriores que eram expressivos, às vezes quase rudes. Desta vez parece que o texto não saiu de rompante, arrebatador mas antes com palavras muito pensadas. Para poupar as meninas, hoje respeitáveis senhoras, esposas e mães respeitadas. Compreendo e elogio os seus cuidados. Mas do que a malta gosta mesmo é do deboche, da libertinagem, do proibido. Passe à frente, Majestade, deixe-se histórias para crianças, e conte-nos as cenas picantes que teve com todas as Donas Graças que conheceu.
Alberto Cardoso
Continuo a seguir com o máximo interesse esta história e... Gosto!
Um abraço
Com tantos quartos... um homem não é de ferro...
Abraço do Zé
Quero ver como é que tudo isto vai acabar!
Casaram, foram muito felizes, tiveram muitos meninos como sempre.
Majestade, Majestade!
Gostas pouco, gostas =P
Mas eu quero um abraço a pesério.
=P de Pata Negra
a brincar com as meninas... e as meninas a brincarem contigo. E com 18 anos africanos? Ó pá! que g'anda (e bem contada f(r)icção.
Como sempre uma pérola: suspiração!
Vai no 9? Até onde irá(s)?
Um abraço
MUITO BOM, EXCELENTE!...
E não é que os versos são quase todos decassílabos !?
Muito bom.
Prevêem-se dias de muita criatividade, pois esta aumenta na proporção inversa do nosso descontentamento! Pena que certas estirpes humanas não se sintam atingidas e não se reconheçam ao lerem esta poesia.
I
As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo aquilo que lhes dá na gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se de quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!
II
E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas.
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!
III
Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano.
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta.
IV
E vós, ninfas do Douro onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!
-----------------------------------
POEMA da 'MENTE'...
Há um Ministro que mente...
Mente de corpo e alma, completa/mente.
E mente de modo tão pungente
Que a gente acha que ele mente, sincera/mente.
Mas mente, sobretudo, impune/mente...
Indecente/mente.
E mente tão habitual/mente, tão hábil/mente,
Que acha que, história afora, enquanto mente,
Nos vai enganar eterna/mente.
Nota: Não sei quem é o autor com tal mente e que não mente.
Caramba, a tentação era imensa nessa casa.
Abraço do Zé
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