- Que diabo de ideia que se havia de meter na cabeça do chachopo!
Pensaria minha mãe durante a lida. Para o meu pai ter um filho médico ou padre, era dos maiores orgulhos que um homem pode ter. Como para os mais pobres médico pia fino, só lhes restava o ofício dos altares em que os estudos são bem mais baratos.
- Se lá chegares, dar-te-ei a melhor charneca!
- Não! Eu quero ser missionário e vou fazer voto de pobreza.
Conversariam os dois na minha ausência:
- Que diabo de ideia que se havia de meter na cabeça do chachopo!
- Em vez de invocares o diabo devias era dar graças a Deus!
- Olha tu, agora armado em santo, há mais de cinco anos que não vais à confissão!... O rapaz tem lá feitio para padre! É um corrécio desajuizado!
- Lá por andar sempre à procura de ângulos para espreitar por baixo das saias das mulheres, isso não quer dizer que não tenha jeito para pregar! Uma coisa não impede a outra! Não lhe hão-de faltar oportunidades de molhar o bico ao prego!.. Oh!Oh! Os padres têm as mulheres todas!
Como o caso, raro na aldeia, chegasse ao conhecimento de todos e todos sem excepção já me tratassem por Padre Nunca, não restou à mãe outra coisa senão ir apresentar o menino possesso ao senhor prior.
O homem fez uma longa entrevista a mãe e filho para averiguar a autencidade da vocação e, ao fim de algum tempo, opinou sabiamente:
- Não me parece com perfil para franciscano. Um dia destes combinamos e, eu próprio, o levarei ao seminário diocesano!
O padre ficou contente. Nunca tinha tido seminaristas no seu rebanho! O contentamento expressou-se numa nota de cinquenta escudos que me enfiou no bolso ao sair.
Minha mãe começava a conformar-se, pelo menos estudaria de graça e só aquele dinheiro, já valia bem o caminho que fizeramos do monte até à igreja. E, como tinha uma unha de poeta popular, inventou logo ali uma para eu cantar, que obviamente nunca mais esqueci:
O Senhor Padre Ferreira
Pessoa de altos estudos
Perdeu o amor à carteira
E deu-me cinquenta escudos
14 comentários:
Se ao menos uma parte das "vocações" que por aí andam fossem como esta... :-)
Abraço.
Isso é que era vocação!
E onde os aplicaste? No BPN?
Um abraço
Hehehehehehe......
Grande estilo!
Um abraço.
Isso, em tempos idos, era uma pipa de massa! Até me doí a alma só pensar que agora são apenas vinte cinco cêntimos...
Ficção ou não, certo é que hoje ficámos a conhecer melhor o que vai na mente do Rei.Bom resto de fim de semana.
mfm
Há demasiadas Marias na Terra...
Eu conheço bem um caramelo com uma vocação idêntica (para o sacerdócio e celibato)eheheh.
Abraço do Zé
Que bonito este texto,adorei lê-lo.
Quanto ao facto de não ter aceite a batina, ainda bem, senão lá se perdia este reino.
A batina ficava-lhe mal, majestade? Já nem é obrigatória...
Cumps
Um texto com muito humor,como outros ,aqui já lidos.Ufa...ainda bem que Sao Karl Marx te iluminou o verdadeiro caminho.
Ele há Marias e MARIAS. Veja a diferença.
Qualquer profissão, desde que bem usada, é um sacerdócio!...
Abraço
Compadre Alentejano
Eu, anónima, já tinha saudades de ler estas histórias verdadeiras ehehehehe disto é q eu gostooooo!Continue, obrigada. Deixo uma beijoca de boa noite
Pata,
li o primeiro post, o post do jeep e depois este. Tás a ver, se tivesses guardado os 50 paus sempre era uma ajuda...
abraço
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