domingo, 18 de setembro de 2011

Uma coisa que se me meteu na cabeça

- Que diabo de ideia que se havia de meter na cabeça do chachopo!
Pensaria minha mãe durante a lida. Para o meu pai ter um filho médico ou padre, era dos maiores orgulhos que um homem pode ter. Como para os mais pobres médico pia fino, só lhes restava o ofício dos altares em que os estudos são bem mais baratos.
- Se lá chegares, dar-te-ei a melhor charneca!
- Não! Eu quero ser missionário e vou fazer voto de pobreza.

Conversariam os dois na minha ausência:
- Que diabo de ideia que se havia de meter na cabeça do chachopo!
- Em vez de invocares o diabo devias era dar graças a Deus!
- Olha tu, agora armado em santo, há mais de cinco anos que não vais à confissão!... O rapaz tem lá feitio para padre! É um corrécio desajuizado!
- Lá por andar sempre à procura de ângulos para espreitar por baixo das saias das mulheres, isso não quer dizer que não tenha jeito para pregar! Uma coisa não impede a outra! Não lhe hão-de faltar oportunidades de molhar o bico ao prego!.. Oh!Oh! Os padres têm as mulheres todas!

Como o caso, raro na aldeia, chegasse ao conhecimento de todos e todos sem excepção já me tratassem por Padre Nunca, não restou à mãe outra coisa senão ir apresentar o menino possesso ao senhor prior.
O homem fez uma longa entrevista a mãe e filho para averiguar a autencidade da vocação e, ao fim de algum tempo, opinou sabiamente:
- Não me parece com perfil para franciscano. Um dia destes combinamos e, eu próprio, o levarei ao seminário diocesano!

O padre ficou contente. Nunca tinha tido seminaristas no seu rebanho! O contentamento expressou-se numa nota de cinquenta escudos que me enfiou no bolso ao sair.

Minha mãe começava a conformar-se, pelo menos estudaria de graça e só aquele dinheiro, já valia bem o caminho que fizeramos do monte até à igreja. E, como tinha uma unha de poeta popular, inventou logo ali uma para eu cantar, que obviamente nunca mais esqueci:

O Senhor Padre Ferreira
Pessoa de altos estudos
Perdeu o amor à carteira
E deu-me cinquenta escudos

14 comentários:

samuel disse...

Se ao menos uma parte das "vocações" que por aí andam fossem como esta... :-)

Abraço.

do Zambujal disse...

Isso é que era vocação!
E onde os aplicaste? No BPN?

Um abraço

Maria disse...

Hehehehehehe......
Grande estilo!

Um abraço.

Kruzes Kanhoto disse...

Isso, em tempos idos, era uma pipa de massa! Até me doí a alma só pensar que agora são apenas vinte cinco cêntimos...

Anónimo disse...

Ficção ou não, certo é que hoje ficámos a conhecer melhor o que vai na mente do Rei.Bom resto de fim de semana.
mfm

JFrade disse...

Há demasiadas Marias na Terra...

Zé Povinho disse...

Eu conheço bem um caramelo com uma vocação idêntica (para o sacerdócio e celibato)eheheh.
Abraço do Zé

M A R I A disse...

Que bonito este texto,adorei lê-lo.
Quanto ao facto de não ter aceite a batina, ainda bem, senão lá se perdia este reino.

José Lopes disse...

A batina ficava-lhe mal, majestade? Já nem é obrigatória...
Cumps

Olinda disse...

Um texto com muito humor,como outros ,aqui já lidos.Ufa...ainda bem que Sao Karl Marx te iluminou o verdadeiro caminho.

Anónimo disse...

Ele há Marias e MARIAS. Veja a diferença.

Compadre Alentejano disse...

Qualquer profissão, desde que bem usada, é um sacerdócio!...
Abraço
Compadre Alentejano

Anónimo disse...

Eu, anónima, já tinha saudades de ler estas histórias verdadeiras ehehehehe disto é q eu gostooooo!Continue, obrigada. Deixo uma beijoca de boa noite

maceta disse...

Pata,
li o primeiro post, o post do jeep e depois este. Tás a ver, se tivesses guardado os 50 paus sempre era uma ajuda...


abraço