Tendo,
de acordo com a Lei n.º 26/2013, obtido aprovação no curso de Aplicador de
Produtos Fitofarmacêuticos ele, guarda noturno num lagar de azeite, com as suas
novas habilitações, pode agora reforçar o seu vencimento fazendo uns biscates
pelas vizinhanças.
Esta
gente já entradota, que ainda cultiva o seu quinhão, já não tem visão para ler
as letras miudinhas dos rótulos das embalagens nem pensão suficente para as
pílulas do colesterol e da tensão, quanto mais para tirar e pagar um curso para
poder livrar dois palmos de terra do escaravelho das batatas ou curar uma
parreira de uvas de mesa do quintal!
E
aí entra ele com os seus serviços e ganha mais algum: uma margem nos produtos
que só ele pode adquirir e dez euros à hora que as mulheres já andam a cinco.
Já se sabe que não pode haver publicidade, ainda há pouco uns fiscais o chatearam
porque tinha um letreiro à porta a dizer “vende-se azeite”; já se sabe que não
passa recibo, o trabalho é prestado como uma espécie de ajuda aos mais velhos; a
divulgação será pelo boca em boca e, do resto, tratará a necessidade porque
isso de bioculturas é uma treta, a química está para as plantas assim como os
remédios para os seus potenciais clientes.
Só
que o primeiro cliente, vizinho que andou com ele ao colo, desacorçoou-o logo.
Aplicados os produtos, de acordo com os conhecimentos que aprendeu no curso,
dirigiu-se à casa do casal e o dono deu-lhe à mão um copo e um naco de pão com
uma fatia de queijo.
O
vinho fora um amigo que lhe oferecera um garrafão, uma pinga divinal, não levou
nada, nem metabissulfito, uma especialidade rara, para beber à vontade, tem quinze
e meio e não embebeda. O queijo, uma prenda do sobrinho que lho trouxera da
serra, divinal, uma especialidade, difícil de encontrar melhor que este.
O
vinho turvo e azedo, o queijo azedo e bolarento, dado é certo, mas porque
também lho deram e, ainda por cima, perante tantas interrogativas de diz lá se
é bom ou não é, se nunca provaste nada assim, teve de corresponder
afirmativamente e deixar no final um muito obrigado como mandam as regras da
educação que lhe deram.
Ossos
do novo ofício! Engoliu. Preparou a despedida para proporcionar o “então quanto
é que te devo?” e ficou desarmado:
-
Eu perguntava-te quanto é que era, mas tu mandavas-me logo pró caralho!
Moral
da história: as regras da boa educação e
as leis do governo são para se cumprir, mesmo que às vezes tenhamos de mentir
dizendo bem do mau e aceitar as mentiras que as novas regras são para nos
proteger, ou até acreditar que existem guardas noturnos de lagares de azeite.
(Mojmir Mihatov – Croácia)
6 comentários:
Ingénuo o aplicador de produtos fitofarmacêuticos.
Temos censura no Reino dos Leittões!!!
ainda tem uma saida - deixar de ser lorpa!
mas se é azeiteiro duvido que consiga
- o lagar deu-lhe a volta!
abraço
Sinónimos de Azeiteiro:
parolo, chunga, pimba, mitra, ridículo, brega, piroso, bahiano, paraíba, pobre, negro, chulo, azeite, proxeneta, etc
Puxa, o herético não gosta do Rei dos Leittões!
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Cínico.
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