segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Aplicador de produtos fitofarmacêuticos

Tendo, de acordo com a Lei n.º 26/2013, obtido aprovação no curso de Aplicador de Produtos Fitofarmacêuticos ele, guarda noturno num lagar de azeite, com as suas novas habilitações, pode agora reforçar o seu vencimento fazendo uns biscates pelas vizinhanças.

Esta gente já entradota, que ainda cultiva o seu quinhão, já não tem visão para ler as letras miudinhas dos rótulos das embalagens nem pensão suficente para as pílulas do colesterol e da tensão, quanto mais para tirar e pagar um curso para poder livrar dois palmos de terra do escaravelho das batatas ou curar uma parreira de uvas de mesa do quintal!

E aí entra ele com os seus serviços e ganha mais algum: uma margem nos produtos que só ele pode adquirir e dez euros à hora que as mulheres já andam a cinco. Já se sabe que não pode haver publicidade, ainda há pouco uns fiscais o chatearam porque tinha um letreiro à porta a dizer “vende-se azeite”; já se sabe que não passa recibo, o trabalho é prestado como uma espécie de ajuda aos mais velhos; a divulgação será pelo boca em boca e, do resto, tratará a necessidade porque isso de bioculturas é uma treta, a química está para as plantas assim como os remédios para os seus potenciais clientes.

Só que o primeiro cliente, vizinho que andou com ele ao colo, desacorçoou-o logo. Aplicados os produtos, de acordo com os conhecimentos que aprendeu no curso, dirigiu-se à casa do casal e o dono deu-lhe à mão um copo e um naco de pão com uma fatia de queijo.

O vinho fora um amigo que lhe oferecera um garrafão, uma pinga divinal, não levou nada, nem metabissulfito, uma especialidade rara, para beber à vontade, tem quinze e meio e não embebeda. O queijo, uma prenda do sobrinho que lho trouxera da serra, divinal, uma especialidade, difícil de encontrar melhor que este.

O vinho turvo e azedo, o queijo azedo e bolarento, dado é certo, mas porque também lho deram e, ainda por cima, perante tantas interrogativas de diz lá se é bom ou não é, se nunca provaste nada assim, teve de corresponder afirmativamente e deixar no final um muito obrigado como mandam as regras da educação que lhe deram.

Ossos do novo ofício! Engoliu. Preparou a despedida para proporcionar o “então quanto é que te devo?” e ficou desarmado:

- Eu perguntava-te quanto é que era, mas tu mandavas-me logo pró caralho!


Moral da história: as regras da boa educação e as leis do governo são para se cumprir, mesmo que às vezes tenhamos de mentir dizendo bem do mau e aceitar as mentiras que as novas regras são para nos proteger, ou até acreditar que existem guardas noturnos de lagares de azeite.


(Mojmir Mihatov – Croácia)

6 comentários:

JFrade disse...

Ingénuo o aplicador de produtos fitofarmacêuticos.

Anónimo disse...

Temos censura no Reino dos Leittões!!!

Manuel Veiga disse...

ainda tem uma saida - deixar de ser lorpa!
mas se é azeiteiro duvido que consiga
- o lagar deu-lhe a volta!

abraço

Anónimo disse...

Sinónimos de Azeiteiro:
parolo, chunga, pimba, mitra, ridículo, brega, piroso, bahiano, paraíba, pobre, negro, chulo, azeite, proxeneta, etc
Puxa, o herético não gosta do Rei dos Leittões!

Manuel Veiga disse...

Vénia, Majestade ... rss

Anónimo disse...

Cínico.