quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Quarto 22

A partir do dia do Quarto 21, Gina passou a dormir no meu quarto. O divã polivalente da sala não estava em condições nem tinha enquadramento para servir em permanência as pernoitas da menina. Segundo as previsões da dona da casa, mais dia, menos dia, pelo andar da carruagem, as coisas desencarrilhariam e Virgolino teria de retomar o comboio para Fafe. Aquilo não era homem para se aturar por muitos dias. Por isso, sabendo que entre mim e Gina existia um entendimento de irmandade, pedia-me encarecidamente que “compreendesse” a situação e aceitasse o incómodo em nome da relação familiar que nos unia.
Eu sabia lá se éramos irmãos!? Pelas minhas contas, nem a proponente acreditava nisso! Ela, senhora de olho, deitava a filha na cama ao lado da minha mas, certamente, que tinha alguma na fisga: “este rapaz tem futuro… pode ser que… bem conheço os seus apetites… não resiste a certas cheiros e a certas curvas…”
Enfim, Dona Graça colocava-nos aos dois no mesmo quarto, como quem põe dois passarinhos na gaiola e aguarda que estes acasalem. Isto era eu a pensar!
Na prática, Gina saíra-me muito difícil. Foi já contado de soslaio que, ocasionalmente, se geravam algumas humidades entre os dois mas, no quarto do humilde hóspede, as investidas acabavam sempre em estaladas desconfortáveis ou em ameaças de “eu vou dizer à minha mãe!”
Para animar ainda mais a luta que travávamos, por vezes, enquanto eu estudava, Gina abeirava-se-me nas costas da cadeira, fazia-me umas massagens no pescoço, enfia-me as mãos pelo peito abaixo, eu levantava-me, deitávamos sobre a cama e chegados a um certo ponto, lá estava o pobre estudante vitimizado por um dos desfechos relatados no parágrafo anterior. Outras vezes o contrário, avançava eu com as minhas mãos e os meus trejeitos mas era sempre o mesmo o fim do filme.
Para compor ainda mais a luta que travávamos, todas as noites se ouviam, dos dois quartos dos dois casais vizinhos – para quem não se lembra: Graça e Virgolino, Tânia e Carlos – a actividade de leitos que cumpriam a sua função mais nobre.
Era o “eu” mediterrânico que estava a ser posto em causa. Ninguém acreditaria, nem a minha santa mãe se o soubesse, que no meu quarto dormia uma rapariga e que eu nada! …
Pensamentos contraditórios assolavam-me o desejo e a cabeça: nem Gina era para mim nem eu para ela, para quê insistir? Mas que sentido, que razão, que destino nos fazia aos dois partilhar um quarto tão exíguo?! E depois, verdade seja dita, Gina sabia equilibrar o quotidiano com os ingredientes próprios de uma relação de irmãos.
Ultrapassou as marcas na noite em que à luz ténue do visor do rádio, já os dois em posição de adormecimento, me fez perceber, intencionalmente, que desenvolvia uns movimentos de auto-satisfação.
Levantei a cabeça como quem pergunta “mas o que é que se passa para aí?!” e recebi resposta:
- Livra-te de saíres da tua cama?!
Lá aguentei, num terrível suplício, a provocação, para ouvir no final:
- Então Cabitche, gostaste? Fez-te algum efeito?!
Fiquei calado e calado adormeci envolto em pensamentos que nem conto porque qualquer um advinhará com facilidade. Que raio de rapariga aquela! Como é de lei, a dificuldade aguçava o apetite. Quer perante os da casa que conviviam com a situação, quer junto dos amigos e familiares que nem a sonhavam, uma caldeirada de sentimentos e pensamentos absorviam o meu ego masculino: orgulho da minha pureza, vergonha da minha impotência, a Gina quase irmã, a Gina quase mulher, o gostar e o feminino, o sexo cru e o amor…
Sei que a história ficaria mais composta se contasse que numa noite mais fria a provocadora se veio enfiar na minha cama, nos meus cobertores, em mim e sem grandes surpresas lá vencemos a pureza e demos cumprimento à inadiável iniciação. Mas isso nunca chegou a acontecer. Definitivamente, repito, nem Gina era para mim nem eu para ela.
(Na próxima semana o Quarto continua)

19 comentários:

Anónimo disse...

Cristo, cristo é o que tu és! Estarás a passar pelas tentações que ele passou ou estarás a expiar os teus pecados?

José Lopes disse...

Calculo que seria uma verdadeira tortura para o moço, mas afinal a Gina lá teria as suas razões...
Cumps

SILÊNCIO CULPADO disse...

Pata Negra

Haja Deus até para mim que não sou crente.
Finalmente, e para variar, esta não acabou como todas as outras. E dá assim aquele toque de interesse acrescido porque afinal sempre existe uma relação em que não se sabe o que irá acontecer.

Abraço

antonio ganhão disse...

Um homem de barba rija aguenta bem uns estalos...

Como sempre foi com um imenso prazer e com um sorriso nos lábios que li mais um destes quartos.

Venha o próximo.

Anónimo disse...

O Padre e o pecador...

Um homem casado vai se confessar:
- Padre, eu quase pequei...
- Que quer dizer com 'quase'?
- Encostei meu 'bilau' na empregada... Mas na hora eu não enfiei, eu parei...entende?
- Encostar é a mesma coisa que enfiar... Você pecou do mesmo jeito! Reze agora 20 ave-marias e tambem colabore com 100 reais para as obras da igreja.
O cara sai do confessionário, reza 20 ave-marias, cata uma nota de 100 reais na carteira - na maior tristeza do mundo - e vai até a caixa de coletas.Encosta a nota na fenda, mas recua e guarda alegremente o dinheiro de volta.
O padre, que estava espiando, grita:
- Você não pôs a nota na caixa de donativos!
- Não foi o senhor quem disse que encostar é a mesma coisa que enfiar?

Portanto amigo se encostou à Gina fez pecado na mesma como pode verificar. A culpada de tudo isso apenas Dna. Graça, nem que a filha dormisse na cozinha. Qto ao amigo Pata Negra..enfim juventude desejos, mas desta vez com sinal de proibição, mto bem.
Um abraço
Luis

Meg disse...

Meu caro Pata Negra,

Ninguém merece isso, com requintes de malvadez e tudo, que essa Gina, vou-te contar...deve ser fresca!
Autêntico suplício de tântalo é o que é!

Pode ser que no próximo quarto a coisa se resolva. Suspense.

Um abraço

Anónimo disse...

cá para mim a Gina ainda vai ao ninho...

abç

Tiago R Cardoso disse...

pois, se não se consegue nada avança-se com uma conclusão, não foram feitos um para o outros...

muito bem.

Anónimo disse...

Eu tenho para mim que a Gina viu a aparelhagem do nosso amigo Pata Negra e concluiu que coisa tão sem jeito de pouco ou nada lhe servia. Se tivesse que ser que fosse com uma máquina a sério...

Zé Povinho disse...

O quarto devia parecer mais uma câmara de tortura, e Gina sabia bem como tornar as coisas bem difíceis.
Abraço do Zé

Anónimo disse...

Ahh, lá estás tu com as tangas "nem ela era para mim, nem eu era para ela".

Visto desse prisma, já não sei qual é que se fazia mais "difícil".

Conta lá mas é os requintes de malvadez que lhe aplicaste, segundo o Virgolino me contou e deixa-te de tretas.

Saudações do Marreta.

Anónimo disse...

Já fiz aqui o meu comentário. Peço desculpa pela intromissão de novo, mas achei ke deveria partilhar esta com todos vcs, se é que já ñ a sabem?


Senhor Primeiro Ministro:

Venho protestar veementemente através de Vª Exª pelo nome dado ao
computador que os vossos serviços resolveram distribuir aos meninos
deste país (os que sobrarem do seu negócio com o Hugo Chavez na troca do
petróleo, bem entendido).

Eu, Pedro Carvalho de Magalhães, nunca mais poderei usar a minha
assinatura sem ser indecentemente gozado pelos meus colegas de trabalho.
Sempre assinei PC Magalhães e, desde que Vªs Exªs baptizaram o tal
computador, tive que alterar todos os meus documentos.
Uma coisa tão simples como perguntar as horas e a resposta que recebo é:

- Atão Magalhães... vai ao Google...

Se vou à máquina de preservativos, há sempre uma boca dum colega:

- Para quê, Magalhães? Não te chega o anti-virus?

Se vou ao dentista, a recepção é sempre a mesma:

- Então o senhor Magalhães vem limpar o teclado...

A minha mulher, Paula Carvalho Magalhães, também sofre pressões
indescritíveis no emprego: Ontem uma colega veio da casa de banho com um
tampão na mão e gritou:

- Paula.... esqueceste-te da tua pen!

Também o ginecologista não resistiu ao nome e, após a consulta,
disse-lhe que tudo estava bem com as entradas USB!

Nem o meu filho, Pedro Carvalho Magalhães, escapa ao gozo que o nome
veio provocar.
A Rita, a mocinha com quem andava há mais de 6 meses, acabou tudo com
este argumento:

- Magalhães.... vou à Staples procurar outro que a tua pega é muito
pequena!

Quando, devido a tudo isto, apanhei uma tremenda depressão que me
impediu de trabalhar, fui ao psiquiatra. Ele olhou para o meu nome e disse:

- Pois é, senhor PC Magalhães. Aconselho-o a passar pelo suporte técnico
da Staples... podem ser problemas de memória RAM!

Neste momento a minha mulher quer desinstalar-se e procurar alguém que
tenha um nome 'decente'.

Senhor Primeiro Ministro... porque diabo não puseram Sócrates a esse
maldito computador? Queria que o senhor visse o que custa!

Atenciosamente, assina
Paulo Carvalho M. (e não me perguntem o que é o M)

Um abraço
Luis

joshua disse...

A Gina foi feita para gerar imaGinação e o terror do desejo suspenso e não para intróitos virilo-vaGinais, heterocópulas perfeitas e mais que perfeitas, só prometidas. Mulher nenhuma pode ser inoxidável à saudável natureza e se a manipula e a não partilha, isso é lá com ela, cheiros, sabores, tactos, gostos.

Mais me convenço que a Graça ainda esperava que, posta a afoguear-se paralela a ti afogueado, a Gina virasse das insinuosas e insinuadas opções auto e homo-eróticas. Debalde. Nada. Foi ela a cascavel-sereia exasperando o teu escroto, massacrando a tua próstata, inutilizando os teus corpos cavernosos, negligenciando a tua glande em amargo de boca marinha, ne logo nesse Quarto de odores a sexo misturados em palimpsesto.

Sei de uma mulher que, descobrindo ser lésbica, enlouqueceu o seu namorado a pouco e pouco rejeitado para doer menos, após três ou quatro anos de namoro. Ninguém está preparado para ser alijado de um ninho corpóreo bem montado e bem batido, tendo em conta tal e tão drástica mudança de marcha.

Um abraço com cheiro a peixe e à maresia dos meus línguo-dedos!

Compadre Alentejano disse...

Gina - A esquiva.
Isso era quase um suplício de Tântalo, só que em vez de água, havia uma Gina que não cedia um milínetro...
Era de um homem enlouquecer...
Um abraço
Compadre Alentejano

aDesenhar disse...

Desafio...
Se não leu ...
...este quarto não faz sentido...

quando terminassem os Quartos,
se for possível, podias resumi-los num Quarto apenas(?!)
:-)

abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Pata Negra
Tenho um texto no Sidadania que chama por ti.

Abraço

Anónimo disse...

Por que não pediste assim: Vá lá Gina. Vá Gina!
rsrsrsrs

M A R I A disse...

Sempre tão bem escrito e deliciosamente narrado.
Quanto a não ter acontecido com a Gina, pense positivo meu Rei: dizem que não há duas sem três, ora as outras duas da família (mãe e irmã de Gina ) marcharam, restou esta para fazer desta sua história uma excepção à regra :)

Um beijinho amigo

Maria

Alberto Cardoso disse...

Desculpe Majestade, sei que nada tem a ver com o "Quarto" mas é uma notícia de última hora que considero importante divulgar. Aí vai:
GOVERNO PREPARA ENCURTAMENTO DA PÁSCOA.
Jesus Cristo morre crucificado e ressuscita no mesmo dia
Depois de ter acabado com o Corpo de Deus, 15 de Agosto, 5 de Outubro, 1 de Dezembro e de não ter dado tolerância de ponto aos funcionários públicos no Carnaval Passos Coelho prepara uma pequena alteração ao ano litúrgico, nomeadamente a Semana Santa, de forma a obter uma versão da Páscoa mais adaptada a um país que quer ser mais competitivo.
Por isso..."A Última Ceia a uma quinta-feira é coisa de garoto mimado e irresponsável que chula os pais e o Estado. Acabou-se a Sexta-Feira Santa e a Última Ceia passa a lanche ajantarado no sábado até às 23 horas, no máximo. Domingo de Páscoa passa a ser o dia do julgamento, paixão, crucificação, morte, sepultura e ressurreição. Também Jesus Cristo tem de deixar de ser piegas!", revelou Passos Coelho.

Com decisões como estas não tarda que A CRISE apenas nos pareça um sonho mau.

Vénias para Sua Alteza Real, Sua Real Esposa e Infantes. Uma festinha no dorso do Real Canino, um carapau fresco para o Real Gato e alpista para o Real Canário. (Nunca gostei do peixinho vermelho por isso mesmo).

O fiel súbdito
Alberto Cardoso