quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quarto 23

Quarto fechado. Hoje não há quarto. Perdi as chaves do quarto? Não, provavelmente foi Gina que as escondeu! Dificilmente as encontrarei e não sou moço de arrombar portas.
Espreito pelo buraco da fechadura em forma de coração. Vejo apenas o espelho do roupeiro. Odeio aquele espelho. A última vez que me fixei nele passei-me, eu e os meus sentidos, para o lado da imagem. Dei pelo meu físico no meio do quarto, de pernas a tremer e à minha espera. E eu, ao mesmo tempo contente por tamanha proeza e ao mesmo tempo, com pressa, com receio de não conseguir regressar. Saí da imagem do espelho ao fim de alguns instantes e fui para a cama mas não consegui dormir durante a noite com os meus pensamentos a cheirarem a naftalina.
Julgo que por detrás deste acontecimento estará o facto de alguns cigarros do Virgolino não terem marca.
Julgo que começa a transparecer, pela fluência do texto, mais um motivo pelo qual hoje o quarto está fechado.

Julgo que isto já deu o que tinha a dar! (Basta ver que os últimos parágrafos começaram por “julgo”). Esperava-se que o quarto descambasse em romance, em paixão, em sexo sobre sexo, em tragédia, em comédia, em diário, em história apaixonante – não deu nada disso e, por isso, deu nisto. Na incentivadora opinião dos estimados comentadores: foi um folhetim.

Só uma última espreitadela na história: Dona Graça era muito mais velha do que eu - tinha trinta e tal anos. Hoje, eu tenho muito mais do que isso, logo, a Graça era uma moça nova. Pena que na altura eu não tivesse idade para perceber isso.
“Oh tempo volta para trás
Dá-me tudo o que perdi
Tem pena e dá-me a vida
A vida que eu já vivi”


Isto não pode acabar assim: para a semana haverá mais quarto

16 comentários:

Anónimo disse...

Cá para mim tu de vez enquando drogas-te, quanto mais não seja com naftalina. Metes-te pelo roupeiro adentro e depois dá nisto. Esqueces-te que a D. Graça meteu naftalina nos roupeiros por causa da traça...

Anda lá, põe o quarto a arejar que eu volto para a semana.

antonio ganhão disse...

Isso mesmo, uma janela aberta, um pouco de ar e para a semana falamos.

E por favor nada de explicações perfeitamente dispensáveis... entre a verdade e a lenda, publique-se a lenda! (Aprendi isto num filme de John Ford, O homem que matou Liberty Valence)

MARIA disse...

Olá Majestade.
Tenho mesmo que lhe dizer isto. Obrigada por essa imagem do quarto. É linda, harmoniosa, arrumadinha.
Foi Vª Majestade que o arrumou ?
Não leve a mal, agora olhando bem para ele já deve estar um desalinho, porque com entrada na imagem, assim tão generosamente facultada, já lhe fiz tal desarrumo que daria para no próximo quarto relatar uma segunda versão do "Crime do Padre Amaro". Claro que até as lunetas hão-de ter saltado ao Eça com o assassinato de algumas personagens, mas eu compenso-o, com esforço, claro.
Ao Eça ... E a si agradeço que nos deixasse a nós, leitores, desta vez a escrita do quarto de hoje.
Não lamente a falta da Graça, Majestade, não lamente.
Essa mulher ia plantar-lhe a vida de vírgolas e virgolinhas e por certo de concluío com a Sinistra submetia sempre as ausências virgolianas a prova complementar de compensação física, o que a si Majestade não assentaria bem, acredite.

Há sempre novas graças a descobrir e aventurar-se a derrubar portas pode não ser assim tão mau ...

Digo eu que derrubo tudo, sou uma desjeitada.

Um beijinho amigo.

Maria

Tiago R Cardoso disse...

gostei em particular da deambulação do espelho, já te tinhas referido a isso no meu lugar.

Ficou muito bom no contexto geral.

Meg disse...

Caro Pata Negra,
Queres um conselho de amiga? Tem cuidado com os cigarros do Virgolino... pelo sim, pelo não, não vá o diabo tecê-las!

Um abraço preocupado

José Lopes disse...

Cá para mim há histórias que estão fechadas no roupeiro, mas que têm de ser limadas, porque isto de de se falar do passado, tem de ter cautelas.
Cumps

Anónimo disse...

este quarto até tem "blâff" ... "julgo" que foi para desencorajar o pessoal, mas isto não pode acabar pelo menos sem mais uma keka...

abraço

Anónimo disse...

Estava a ver que te ias cortar ao trágico final! Tamanho vai ser o banho de sangue que vai haver morcelas para toda a gente!

Saudações sádicas do Marreta.

Anónimo disse...

Gostei imenso de ver o quarto, discreto mas dentro de um coração amoroso....acho as camitas mto estreitas mal dão pra uma pessoa e ñ se pode mexer mto senão cai da cama, pra fazer amor só na posição de missionário, ou então no chão ehehehehehehehe. Quem me dera a mim tbém q o tempo voltasse para trás.Um abraço
Luis

Compadre Alentejano disse...

Os quartos têm de continuar, pois já há um mundo de leitores à espera.
Venham mais quartos!
Um abraço
Compadre Alentejano

Zé Povinho disse...

Vamos lá! Então lá porque o rapazinho estava prestes a subir paredes, faz-se um interregno para criar mais suspense?
Ficamos todos há espera da continuação, e já vi que somos bastantes.
Abraço do Zé

Oliva verde disse...

Bem me parecia que o quarto ainda tinha mais "pés para andar"!!!
Mais um cigarro (de preferência do Virgolino, pois então!) e lá teremos mais uns quantos segredos revelados!
Esperemos, então, pelo próximo.
Até lá, um abraço

Anónimo disse...

Espero bem que não nos deixes colados ao buraco da fechadura!!!
Eu sei que é feio fazer tal coisa de espreitar pela fechadura, mas sabemos que o proíbido é o mais apetecido. Vá lá mostra-nos mais dessa história!!!
Ficamos a espera.....

joshua disse...

Homem, que susto e que pedra a tua na base dele. Um par de tabefes amigos e uma baldada de água fria para acordar da moca saudadelina, deve chegar porque se me falta o teu Quarto, perco o fio à meada de mim.

Nem concebo que o Quarto acabe assim ou assado. Tu zela-me por este leitor leitão da teta do teu texto.

Unknown disse...

E depois...como termina?

M A R I A disse...

Tem que se abrir uma porta num quarto para o futuro para rematar a história com toda a graça .
:)

Um beijinho amigo

Maria