quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O homem do pladur ou o Outono

(O homem do pladur veio tirar as medidas para as obras que andamos a fazer no sotão e agarrou um papel que encontrou dobrado no chão:
- Olhe lá isto! Pode ser alguma coisa importante!...
Peguei no manuscrito e li-lho:  )

OUTONO
-E agora?! Se o concerto acabou, para onde vamos?!

as árvores despem-se para o banho
a paisagem e o tempo vestem o homem
as primeiras chuvas são o leite materno
o rio irrequieto revela sintomas de primeira gripe
de nada serve arranjar lenha no verão
de nada serve arranjar água no inverno
tantas vidas
tantos anos
tantos outonos
um filho em cada estação
todos os anos escrevo pelo outono

- Para onde vamos?! Comprei um disco de que vais gostar!
1979

(O homem do pladur camuflou um encolher de ombros e tentou disfarçar um ar de compaixão. Li-lhe o pensamento: "será que este velho maluco terá dinheiro para me pagar o serviço?")

Outros outonos: 1980, 1982, 19831988,

16 comentários:

do Zambujal disse...

... as árvores despem-se para o banho/a paisagem e o tempo vestem o homem...
É de poeta! "Velho maluco"? Também.

Se precisares de alguma ajuda para pagar ao homem da pladur pede-me a mim que estou de boas relações com o Banco Central Europeu.

Um abraço

MARIA disse...

Olá Majestade, adorei este seu outono.
Perdi-me nas avenidas desfolhadas dos outonos que já partilhamos aqui.
Já foram todos estes?!...
Talvez por isso o Outono fez-se raio de sol e amarelou os meus cabelos e as raízes das árvores nuas e frias fixaram-se na estrutura da minha alma outonal. Ainda amo o Outono, apesar de saber que se lhe segue o duro Inverno, porque me lembra que a seguir posso esperar que seja verde e multicor a Primavera.

Está a escrever melhor que nunca.
O seu valor na escrita sempre foi um caso sério, mas agudiza-se :)

Muito lindo, os meus parabéns.

Um beijinho amigo

Maria

Camolas disse...

Agrada-me a alternância das estações, o recolhimento do teu Outono e a Festas Báquicas em Vila de Frades, para as quais está Vossa Majestade desde já convidado.

Cristina Torrão disse...

Sem ofensa para o homem do pladur, que até pode ser boa pessoa, foi um caso típico de "dar pérolas a porcos".

E já que se fala em porcos: talvez seja boa ideia convidá-lo para fazer parte do gabinete do Pata Negra, caso ganhe as eleições ;)

mfm disse...

O concerto acabou, o pladur que sobrou já não serve para nada.
As árvores despem-se, mas, o banho tarda. Para onde vamos?

Anónimo disse...

Odeio o Outono, sei que por nao ter alma poética como a sua magestade, acho que todos os poetas gostam do Outono! Eu sou só uma infima parte da paisagem e deve ser por isso que cada vez me sinto mais pequenino, mais sem forças, mais reduzido à minha insignificancia, mais tudo e mais nada!!! Ainda assim, adoro Poesia!

Zé Povinho disse...

Estou em crer que se tratava apenas de alguém que queria mostrar que não brinca em serviço e não perde tempo com conversas durante o trabalho.
Areia em demasia para a sua camioneta, talvez seja um comentário excessivo, não?
Abraço do Zé

Anónimo disse...

Desculpe? ...A importancia e a maldade de cada coisa é dada pelas vivencias de cada um e a respectiva forma de ver o mundo. Se essa é a sua, lamento!
Ah e cuidado sou um ser extremamente perigoso, nao tente aproximar-se...e passe so a comentar do que sabe e conhece, que tal?
A unica coisa boa desse seu "comnetario excessivo", foi ter passado de pequenino a importante. Obrigado, só por isso!!!

Pata Negra disse...

Sinto-me sempre em falta por não responder aos comentários. São os comentários que me dão força para insistir. Sabem, os bloguers, que não é fácil dar a devida resposta.
Por isso...

Zambujal
Pensei em ti quando, puto maluco, quando medi custos - espero o teu NIB.

Maria
Como os outonos passam! Já partilhámos outonos suficientes para a poesia e cumplicidade que nos ligam!
Simplesmente - e sempre - Maria.

Camolas
Festas Báquicas em Vilar de Frades - acabei de investigar. Olha que não perdes pela demora! Vai preparando as torneiras nos tonéis! Aqui no Aquéntejo está turvo, o vinho!
Um abraço a caminho de Dezembro

Kássia, será criado um imenso gabinete onde terão cabimento todos os trabalhadores, incluindo obviamente, os que serram o pladur.

MFM,
Para onde vamos? Ouvir a música e dançar - é o pequeno tanto que nos resta!

Anónimo
Não tens alma poética?!... Não tens é nome!!!Arranja ao menos um nique-nome, sempre ajuda ao diálogo!
Um abraço mais com forças


Enfim, um motorista de curso médio como era, aliás, o meu saudoso pai.

Pata Negra disse...

Anónimo das 22.03, que julgo ser o das 18.46.
Fiquei assustado com o seu comentário e estudei o caso. Olhe que o Zé Povinho é bom zé e não estava a referir-se ao que disse. O Zé, do povo que é, deu uma no cravo e outra na ferradura mas foi ao pequeno grande homem do pladur!
Um abraço ao Zé e ao Anónimo em nome do amigo do pladur.

Anónimo disse...

As devidas respostas são para se darem, sem medos, só assim poderemos responder (TÃO BEM), devidamente!

Cumprimentos.


P.S - Tenho esperança de um dia voltar a ser pequenino!

opolidor disse...

Pata

aproveita o pladur e rascunha -lhe o poema ou desenha-lhe um outono...
abraço

Anónimo disse...

Esqueci-me de mandar cumprimentos ao seu amigo Zé (nao sou rancoroso...se é seu amigo e ainda por cima do povo nao deve ser má pessoa, e errar é humano, ...)É verdade, sou um grande fã da sua amiga Maria, conserve-a pois ja vão escasseando, ...Obrigado pelas forças enviadas ...
Continuem, gosto de vos ler (com as devidas excepções, ...)

Anónimo disse...

Ate um dia noutra reencarnação...ai vou dizer o meu nome e tudo!Por aqui ja foi tudo dito...


Deculpe qqer coisa...mas principalmente o chegar sempre tarde, onde todos chegam mais cedo!

Directamente do Portugal dos Pequeninos

samuel disse...

Olha... gostei! Muito!

Abraço.

chiclete disse...

A videira triste está a chorar,
Ela sem uvas ficou.
Cheira a vinho novo no lagar,
Então o Outono chegou.

E eu com o copo vazio.